Desde que a televisão chegou ao Brasil, na década de 50, muita coisa aconteceu. Houve a revolução das TVs em cores, a TV por assinatura começou a ser difundida entre os consumidores, a tecnologia HDTV também disseminou pela população, enfim.
E as emissoras televisivas também tem uma enorme responsabilidade, já que sempre pensa em levar o melhor do entretenimento ao público. Dentre as emissoras brasileiras, podemos destacar o SBT, de Silvio Santos, a Bandeirantes, a Record, e a Rede Globo, maior emissora do Brasil e a 2º Maior do Mundo. As novelas produzidas pela Globo tem uma qualidade excepcional, sendo exportada para vários países do globo.
Entretanto, outras emissoras também tiveram um papel importante na formação do sistema televisivo brasileiro. E a ‘’Rede Manchete’’, do empresário ucraniano radicado no Brasil, Adolpho Bloch, é um ótimo exemplo para explicar a variedade de programação das emissoras nos anos 80 e 90.
Quem nasceu no fim da década de 1990, é provável que saiba pouco ou simplesmente não saiba nada da história da emissora, que teve fim em 1999. Mas, quem teve a sua infância entre o fim da década de 80 e início da de 90, com certeza se lembra. Vamos, então, voltar no tempo e conhecer um pouco mais da sua história?
O Começo da Rede Manchete
Com o fechamento da primeira estação de TV da América Latina, a TV Tupi, as suas concessões estavam disponíveis, e vários grupos de mídia estavam de olho nelas. São a Abril, Grupo Silvio Santos, Rede Rondon, Bloch e muitos outros.
Depois de uma avaliação, os grupos que ganharam fora a Bloch e Silvio Santos. Cerca de nove concessões, entre elas uma da extinta TV Excelsior, foram distribuídas entre Silvio Santos e Adolpho Bloch. Isso ocorreu em 1981, mais precisamente em 19 de agosto. De imediato, Silvio lançou o SBT. Bloch preferiu projetar e criar planos para o lançamento de sua rede.
O Grupo Bloch
O Grupo Bloch era um conglomerado multimídia, que foi fundado em 1952. Conhecido por Bloch Editores, o grupo era especializado em mídia impressa, como revistas, livros didáticos, enfim. A revista Manchete era considerada o motor da editora, já que era o exemplar mais adquirido. A sua vendagem era estimada em 120 mil unidades.
Adolpho Bloch nunca pensou em investir nas áreas de comunicação via som e imagem. Preferia as editoras e tinha o sonho de poder produzir latas feitas de alumínio. Mas, quando entrou na briga pelas concessões, levou a ideia adiante.
E, No Dia 5 de Junho de 1983…
As 19:00, a Rede Manchete começava a sua transmissão, depois de ter a inauguração remarcada várias vezes. Depois das mensagens de patrocinadores, entrou no ar uma declaração de Adolpho Bloch, cumprimentando os telespectadores e as emissoras.
Logo, foi ao ar a primeira vinheta da emissora, muito realista e moderna para a época que foi veiculada. Mostra a sua logomarca, o M, e o letreiro ‘’Rede Manchete’’, logo abaixo. Confira a vinheta, totalmente remasterizada:
Confira, agora, uma parte da Inauguração da rede:
Depois das apresentações iniciais, foi ao ar o primeiro programa da rede: Mundo Mágico.
A Programação Tradicional da Manchete
A Rede Manchete, que inicialmente tinha o slogan ‘’A TV do ano 2000’’, apostou em programações que o público teria prazer em ver e seria fiel aos horários. Por isso, novelas e séries dominavam a grade, e programas populares e infantis também tinham o seu lugar na rede. O ‘’Clube da Criança’’ é um bom exemplo, e foi onde Xuxa, hoje na Globo, começou na carreira de apresentadora.
A programação que a emissora levava ao ar era ‘’de alto nível’’, no qual compunham programas de entrevistas, filmes, documentários e o jornalismo, seu ponto mais forte.
Animes também tinham o seu espaço, e o retorno era a sua boa audiência. Exibidos nas tardes, Cavaleiros do Zodíaco, Jiraya, Jaspion, entre outros, faziam sucesso.
O humor também batia cartão na emissora. Vários como o ‘’Cadeira de Barbeiro’’, com Lucinha Lins e Cacá Rosset.
Novelas
As novelas da Manchete tinham uma boa aceitação do público, sendo ‘’Pantanal’’ a mais conhecida e famosa produção da emissora. Chegou até mesmo a superar a poderosa Globo, que também produzia novelas de qualidade. ‘’Pantanal’’ tinha médias de 40 pontos, mas chegava a bater na casa dos 70 em algumas regiões brasileiras.
Depois de ‘’Pantanal’’, entra no ar ‘’A História de Ana Raio e Zé Trovão’’. Foi a segunda novela do cantor e compositor Almir Sater, sendo ele o protagonista ‘’Zé Trovão’’. Entretanto, os índices fantásticos de ‘’Pantanal’’ não foram alçados. Mesmo assim, as suas médias, de 20 a 35 pontos, eram satisfatórias.
‘’Kananga do Japão’’ também foi outra produção de sucesso na emissora, tendo nomes como Christiane Torloni e Raul Gazola. Aliás, esta novela foi idealizada pelo próprio dono da emissora, Adolpho.
‘’Dona Beija’’, protagonizada por Maitê Proença também cativou o público. A novela foi inspirada em fatos históricos.
Crises
A Rede Manchete enfrentou duras crises, dentre elas podemos destacar a de 1991-1994 e a de 1998-1999.
Durante a primeira crise, boatos de venda da emissora se espalhavam, até que foi anunciado que a Manchete foi adquirida pelo Grupo IBF, em 1992, que se dispôs a gerenciar as dívidas da estação. Mas, desentendimentos e descumprimentos no contrato por parte da IBF fazem a rede voltar ao controle de Bloch.
Logo depois dessa crise que quase fechou as suas portas, a Manchete começa a reerguer-se. Baseada no crescimento de audiência de seus programas jornalísticos, infantis, esportivos e a exibição de animes, a Manchete manteve os padrões. No final do mesmo ano, Adolpho Bloch vem a falecer, aos 87 anos.
Em 1996, os sinais da crise anterior já tinham sido apagados. Programas com teor jornalístico ganhavam espaço e audiência.
‘’Xica da Silva’’ é lançada, sendo protagonizada por Taís Araújo, que na época era desconhecida aos olhos do público. Exibida na faixa das 22 e 23 horas, a novela alcançou índices expressivos de audiência.
Mas, logo em 1998, uma crise devastadora assolou novamente a emissora carioca. Greves, falta de pagamento de salários, instabilidade e tensão tomaram conta dos estúdios da Manchete. Durante os anos de 1998 e 1999, a rede passou pelas mãos do Grupo Renascer.
Depois de intensas movimentações pela venda da emissora, processos, dívidas que não tinham fim, a Rede Manchete chegou ao fim no dia 10 de maio, depois de ser adquirida por Amílcare Dallevo, para dar lugar a TV!, Que mais tarde, se chamaria ‘’Rede TV!’’. Veja a última exibição da Vinheta da Rede Manchete e o início das transmissões da TV! :
Acabava aí a história de uma das maiores emissoras de televisão do Brasil.
Por Francisco Prado